Filme dublado e filme legendado.

Tá limpo!
Tá limpo!

Não existe filme dublado e filme legendado. O que existe é filme falado no idioma original e filme dublado em outro idioma. As legendas eletrônicas na tela são instrumentos válidos para que o público saiba o que os personagens estão dizendo na história que está sendo contada na tela. Mas elas não representam as emoções, nuances ou dinâmicas usadas quando se está dizendo alguma coisa.

O que quero dizer com isso? Simples. As legendas ajudam o espectador a saber o que está sendo dito, mas não permitem de fato sentir a emoção dos personagens a cada cena. A meu ver, é a mesma coisa que ler um livro ou qualquer tipo de texto. Você simplesmente decifra os caracteres, sem prestar atenção ao que de fato está acontecendo.

Não tenho domínio pleno de línguas estrangeiras, sejam elas quais forem, o que me impede de assistir a um filme em sua língua original sem o recurso das legendas eletrônicas na tela. Isso me impede de realmente vivenciar a experiência de assimilar toda a atuação de cada um dos intérpretes. A voz é um instrumento fundamental na interpretação de um ator, complementando a sua expressão corporal e entrega ao papel. A emoção do personagem em muito está na voz do ator, em seus timbres e tons construídos para que ele se transforme no personagem que vemos na tela.

Se eu estou lendo as legendas, ouço o ator e sua interpretação, vejo a forma com que ele desempenha o papel e posso saber como é o personagem. Mas não tenho como fazer isso de forma completa, já que as legendas não vêm acompanhadas da descrição de como o personagem está se portando na sequência que está sendo exibida. Dessa forma, as legendas apenas auxiliam a compreensão do texto, não valorizando o filme como um conjunto de experiências e sensações.

Com a dublagem, isso não acontece, pelo simples fato de que a versão dublada de um filme, série ou desenho animado não representa uma simples tradução audível do texto original, tampouco, uma imitação feita pelos dubladores. A dublagem é uma versão num outro idioma para que o público que fala essa língua aproveite as experiências apresentadas na tela.

Em relação à dublagem brasileira, por exemplo, nossos dubladores são atores de verdade que interpretam com o seu talento próprio aquilo que está na tela. Um dublador não dubla simplesmente o ator na tela. Ele imprime sua voz e interpretação ao personagem que vemos na tela. É necessário o entendimento daquele personagem para que o dublador crie a sua versão brasileira, acrescentando nuances e aspectos próprios que respeitem a obra original, mas a adaptam ao nosso entendimento.

A dublagem causa o mesmo efeito de se assistir a uma obra em sua versão original. Você ouve o que está sendo dito e sente a emoção do personagem em cada palavra. Sente sua respiração, seus cacoetes, sua hesitação ou certeza no que diz. Se ler uma legenda, não terá essa mesma experiência.

Por isso, acredito que a dublagem é uma forma de arte, que aproxima a obra original ao nosso idioma e nos permite aproveitar mais e melhor a experiência de se assistir a um filme em cinema ou no conforto do lar. Sou admirador da dublagem brasileira e meus argumentos não representam simplesmente “papo de fã”. Gosto de dublagem porque ela me faz sentir o filme, não apenas entendê-lo.

Respeito todos os profissionais envolvidos com dublagem, porque sei que eles, além do trabalho, encaram essa tarefa como arte de verdade, como a possibilidade de fazer com que um filme, série, desenho animado ou programa venha a se tornar algo que fica para sempre na mente e na memória reminisciva e afetiva das pessoas.

Quando uma dublagem é bem feita, com o som bem claro e as interpretações respeitando o original, não há como dizer que a produção é ruim, nem mesmo que os profissionais estragaram a obra. Aliás, nem dá pra dizer “que o filme está dublado”. Nos envolvemos com as histórias e as vozes dos personagens e vivenciamos essas histórias da melhor forma possível, ou seja, elas se tornam partes de nós mesmos.

Quando escrevo sobre dublagem ou converso com alguém sobre alguma coisa referente a ela, falo dos profissionais, de técnicas e trabalhos, da qualidade ou não do que vem sendo feito. E quando assisto a algo dublado, num primeiro instante, acabo identificando esta ou aquela voz, associando-a a seu dono. Mas no instante seguinte, me deixo levar pela história, e ouço aquelas vozes como vindas dos personagens na tela e não de alguém falando em cima do ator.

Essa é a magia da dublagem. Uma técnica aprendida e desenvolvida ao longo do tempo que faz com que nossa língua seja proferida por todos os tipos de pessoas, em qualquer lugar do mundo, seja o tempo que for.

Nunca uma dublagem será a mesma coisa que a voz original. Ninguém muda uma obra original. E nenhum dublador quer isso. Não há um único dublador brasileiro que quer desmerecer o original ou tirar o seu valor frente ao público consumidor da obra. Eles querem aproximar essa obra de nossa cultura, de nossa realidade. Mais ainda, eles querem que possamos sentir a obra, viver a obra, apreciar a obra.

É por isso que eu continuo admirando a VERSÃO BRASILEIRA. 

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